A Figura do Médium

02-12-2011 16:08

 

    Em certos momentos da vida eu me pego olhando para o passado, e revendo a trajetória do que me trouxe em busca do caminho. Me lembro sempre da frase de um grande amigo: “Escolas católicas são fabriquetas de ateus.” Nem preciso dizer qual é a sua posição religiosa, mas o fato é que, como ele, também tive uma formação tradicional católica que me levou a um certo ateísmo durante a adolescência.

 

    Vejam bem, eu digo “um certo ateísmo”, acredito que a condição de ter preocupação zero com a espiritualidade não seja de forma nenhuma uma condição de negação radical. Lembro-me que desde pequeno, como em muitas famílias católicas, a minha também enveredava um pouco para o lado do Espiritismo, e, pela necessidade, eventualmente Umbanda. Muitas dessas incursões em religiões espiritualistas ainda são lembranças meio vagas para mim, mas uma coisa que sempre me impressionou era a figura do médium.

 

    Quem era aquele que permitia que os ditos espíritos falassem através dele? Ele possuía um dom ou poder? Era um charlatão? Que habilidade era aquela e por que só alguns escolhidos o podiam ter?

 

    Eram (e ainda são) comuns frases soltas do tipo: "fulano é médium, precisa se desenvolver", "esse seu problema só pode ser resolvido se você procurar uma casa para desenvolver sua mediunidade". Durante tempos vi pessoas colocarem a figura dos médiuns em pedestais, como se eles fossem sobre-humanos, seres encarnados quase divinos, e o que sempre me batia é: o que faz delas pessoas diferentes de mim?

 

    O tempo passou e o aprofundamento também, passei a entender os fenômenos mediúnicos, mas em nenhum campo de estudo por onde caminhasse me explicava a incorporação. Queria entender como acontecia, se era ou não um tipo de possessão, se havia controle. Isso me levou a uma encruzilhada mental onde para avançar, minha única opção, era a imersão. A maneira que encontrei para entender, seria estar dentro, me desenvolver. Mas eu não era médium, nenhuma entidade havia chegado para mim e dito que "eu precisava disso", mas para mim não haveria outra maneira, essa era a solução. Escolhi uma casa e dei início aos trabalhos.

 

    Houve uma frustrada tentativa de desenvolvimento numa casa Kardecista, mas o fato de ter que estudar durante cinco anos as obras espíritas e rever muito do que eu já conhecia, me levaram a um terreiro de Umbanda, queria a vivência na prática, chega de livros e teorias.

 

    Uma coisa que costumo dizer hoje em dia para quem esta começando é, para tudo existe um preço. Quando comecei, o diligente da casa foi firme em relação as obrigações, todos os médiuns ajudavam a manter financeiramente a casa, você precisa montar suas guias e comprar suas velas, e, em seguida veio o que eu acredito ser o maior de todos os pagamentos, estar disposto a doar seu tempo para a caridade. Acima de qualquer coisa, vejo que a maior entrega de um médium de terreiro é doar de três a seis horas por semana ajudando o próximo, e hoje, olhando para trás, acredito que este seja um preço justo. Foi assim que esse novo caminho começou.

 

    Depois de dois anos de desenvolvimento, vi muitas pessoas entrarem e saírem, médiuns iniciantes tendo incorporações em sua segunda gira e outros (como eu) levarem anos, vi minha intuição se fortalecer e presenciei as mais diversas situações dentro de um terreiro. E um dos maiores aprendizados que tirei disso até agora foi que todos, sem exceção nenhuma, somos médiuns. A mediunidade é uma habilidade humana assim como a capacidade de desenhar.

 

    Sempre achei estranha a ideia que uma pessoa fosse potencialmente diferente de outra e hoje vejo que realmente estava certo. Conheci muitos ilustradores de talento, que desenham desde criança com uma capacidade incrível. Outros, sem o famoso "dom", escolheram se aprimorar, treinaram e chegaram lá, uns levaram dois anos, outros dez, mas conseguiram.

 

    A mediunidade é a mesma coisa, você só precisa de força de vontade e fé, mas, muito além da fé em algo superior, você precisa ter fé em si mesmo, acreditar que você é capaz. O que faz do médium alguém "especial" não é um talento ou dom, mas sim a capacidade de acreditar e seguir em frente com suas convicções, essa é a verdadeira capacidade sobrenatural.

 

- Oliver Logra.

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A Figura do Médium:

curiosidade mediúnica

Data: 06-12-2011 | De: Verônica

Interessante seu texto. Percebo que o quê o moveu em direção a esta sua escolha moveu também a Mônica, e poderia dizer também Pierre Verger.
Dá uma olhada no documentário que tem narração do Gilberto Gil sobre a vida e obra deste francês que retratou em sua obra a vida dos terreiros.

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