A Casa da Bruxa

17-07-2012 10:40

 

O Louco, Hermetismo, Magia, Mago, Bruxa, O que é ser, O seu universo, Ocultismo, Magia, Espiritualismo

 

    Quando eu tinha sete anos, minha então professora resolveu ler para a nossa turma o livro João e Maria e, encerrada a leitura, começou a fazer algumas perguntas sobre a narrativa. A mim ela perguntou do que era feita a casa da bruxa. Sem um segundo de hesitação eu respondi: “Ah, professora, você não me pega! A casa era feita de palavras, como todo o resto!”

 

    Pois bem. Eu acredito nas palavras bíblicas que dizem que não há nada de novo debaixo do sol. Os anos passam, nós crescemos, envelhecemos, nossas idéias mudam... Mas tudo continua o mesmo, a diferença é que passamos as mesmíssimas coisas sob novos pontos de vista, a partir de novas perspectivas e, o que é mais importante, com profundidades bem diferentes.

 

    Isso vale para a resposta que dei sobre o livro João e Maria. Se anos atrás ela serviu para responder uma questão sobre um livro infantil e exasperar uma professora, hoje, após tantos anos, ela cresceu, evoluiu, envelheceu comigo e se transformou: Hoje eu acredito que ela sirva para explicar o nosso universo.

 

    Veja você, leitor(a)... Estou honestamente convencido de que o universo, se não de palavras, é constituído por informação. Essa é uma idéia que você encontrará tanto no hermetismo quanto na física quântica. Temos pequenas unidades de informação que, combinados, criam, mantém e recriam tudo quanto chamamos de realidade (e provavelmente o que está além dela).

 

    Vocês poderiam imaginá-lo como uma grande sinfonia, tocando pelo cosmos desde sempre, sempre a mesma, mas sempre cambiante.

 

    Claro que ninguém ouve a mesma música da mesma maneira que outra pessoa. Cada um tem uma personalidade diferente, um corpo diferente, uma mente diferente. Se vinte pessoas ouvissem uma mesma canção, seria como se vinte canções tivessem sido tocadas diante dessa gente. Analogamente, cada um percebe o universo à sua maneira.

 

    Essa grande sinfonia, essa canção do universo, é tocada em notas muito sutis... Tão sutis que nossos ouvidos físicos sequer percebem. Mas há algo em nós, que também vibra muito sutilmente, que é capaz de percebê-la e traduzi-la para os nossos sentidos. Esse pedaço de nós faz isso de maneira interessante: Ele pega a mesma canção e a toca numa oitava mais grave, mais densa, que pode ser percebida pelos nossos sentidos. Ele recria a canção.

 

    Se o universo é formado por trechos de uma linguagem (no exemplo acima, uma linguagem musical), e se não percebemos o universo como ele é, mas como nós o recriamos, podemos postular dois argumentos:

 

A – Quanto maior o nosso domínio da linguagem que compõe o universo, mesmo que uma forma “densa” dessa linguagem, maior a nossa capacidade de perceber o universo em profundidade, mais próximos estaremos da versão original da canção, por assim dizer.

 

B – Ora, se não percebemos o universo como ele é, mas através da percepção que nós temos dele, então é óbvio que vemos as coisas não como elas são, mas como nós somos.

 

    Dando continuidade ao argumento de A, quanto mais dominamos os aspectos “densos” dessa linguagem, mais nós poderemos apreender as manifestações de aspectos mais sutis dessa linguagem, de modo que nossa experiência do universo, que corresponde à nossa proficiência em percebê-lo (“vemos o universo como nós somos...”), tornar-se-á mais profunda.

 

    Para aprendermos a aprofundar essa experiência, precisamos ter em mente o ensinamento hermético de que “o que está acima é como o que está abaixo, o que está abaixo é como o que está acima” e aplicá-lo: Se o universo é composto por linguagem, a primeira capacidade exigida de quem deseja perscrutá-lo é o domínio de sua própria linguagem.

 

    Se você é incapaz de processar informações, você não será capaz de perceber o que há de importante a ser percebido. Se você não é capaz de expressar-se, você não é capaz de causar nenhuma alteração realmente profunda no universo que lhe cerca.

 

    É o estudo dos aspectos elevados de nossa cultura que nos permite adquirir esse domínio da linguagem. Você é o que você come. Se seu tempo livre é utilizado com putaria e inutilidades, isso refletirá sem dúvidas naquilo que você é. Se, por outro lado, você busca o que há de mais elevado, é claro que será você a elevar-se, aos poucos.  

 

    A leitura tem aqui um papel importantíssimo. O que torna grande as obras eternas da literatura humana é fato delas descreverem com muita propriedade experiências e tipos humanos. O estudo dessas obras, além de ser um bom exercício mental, permite-nos conhecer mais e mais da humanidade sem sairmos de casa, ao mesmo tempo em que treina nossa capacidade interpretativa.

 

    Que faz grandiosas as aventuras? É que os eventos e conflitos nelas contidos podem muito bem acontecer em nossas vidas, então elas são verdadeiros manuais para nossa vivência. Que faz grandiosos os heróis? É que eles representam os aspectos mais elevados do que podemos chegar a ser, então são verdadeiros modelos para nosso desenvolvimento.

 

    Ninguém chegará a lugar algum sem a capacidade de imaginar. A capacidade de imaginar, de sentir (que a leitura permite desenvolver), é a Fundação de toda a nossa evolução. O domínio da linguagem é o próximo passo, pois é através da linguagem que desnudamos o Esplendor. E quando alcançamos esse Esplendor, e aprendemos a conhecer os sentimentos humanos... bem, então alcançaremos a Vitória.

 

    Ninguém que não tenha passado por isso, de um modo ou outro, será um grande mago ou uma grande bruxa. Por quê? Porque magia é justamente dominar essa linguagem a tal ponto que você seja capaz de manifestar trechos desejados dessa grande obra universal.

 

    Que é o ritual? É utilizar-se de vários trechos de várias linguagens (visual [cores, imagens, símbolos], sonora [músicas, batidas], etc) para manifestar os trechos aos quais eles correspondem.

 

    O palácio do magista é como a casa da bruxa: Feita de palavras.

    E fica dentro de sua cabeça, e do seu coração.

    Tais são as palavras pr’O Louco.

 

- Lucas Félix

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