O Manifesto Anti-Karma e o Disco de Vinil

12-10-2012 10:29

 

    "Não! Tentar não. Faça ou não faça. Tentativa não há." - Mestre Yoda

 

    Ontem, tive uma epifania sobre a vida e a evolução espiritual. Nossa eternidade é como um disco de vinil. Alguém ainda se lembra do que é isso? Redondo, grande, chato como uma bolacha e cheio de ranhuras? Colocávamos esse indivíduo numa vitrolinha para ouvirmos nossas músicas chiadas até o começo dos anos 90, e como todo ciclo, um dia ele se foi. Ainda existem alguns perdidos por aí, hoje fabricados com novos materiais que inibem os antigos ruídos, são vendidos a preços absurdos para alguns saudosistas, mas esses resquícios não são o nosso objetivo. 

 

    O fato é que nossa eternidade é um grande disco de vinil colocado numa vitrola onde a agulha não pode voltar para trás. Ela até poderia subir e, por uma decisão própria, você mudaria do lado A para o B, mas ela nunca retrocede. A caminhada é única, da borda até o centro, e chegar a este, é inevitável. Nosso disco tem centenas de músicas, elas podem ser longas e melódicas como sinfonias ou rápidas e explosivas como um agressivo som punk. Mas uma coisa é fato, uma faixa sempre termina antes da próxima.

 

    Se você traçar uma linha imaginária do centro desse disco até sua extremidade, seguindo o raio, vai notar uma coisa interessante. A cada revolução, ele passa pelo mesmo “lugar”, é claro que ele avançou, mas é como se as coisas sempre passassem por um mesmo ponto. A vida gira, mas as situações retornam. Cabe a cada um de nós, decidir como agiremos nesse retorno. Alguns problemas acabam sendo arrastados, como a longa estrofe de um poema que insiste em martelar em nossas cabeças, outras, apenas pulamos ou ignoramos, como o trecho incompreensível da letra de um heavy metal gutural. Mas ironicamente, muito em breve, o problema retornará, e se não foi resolvido, ele acontecerá novamente e novamente.

 

    É muito fácil olharmos esse determinado trecho e ficarmos tentando buscar uma explicação para sua existência. O difícil é buscarmos uma solução. Eu fico intrigado com a obsessão das pessoas ao redor do karma (ou carma – como preferir). Isso virou desculpa para inação. “Isso é meu karma, não tem como resolver”.

 

    Não tem? Por quê não tem?

 

    O absurdo é que o karma virou resposta para tudo de ruim que acontece. “Roubaram meu carro, foi karma. Tropecei na pedra e quebrei o braço, foi karma. Não passei no concurso, foi karma.” Será que se você tivesse colocado seu carro no estacionamento em vez de deixá-lo na rua, os “cruéis agentes do karma” o teriam roubado de qualquer maneira? Será que se você não tivesse enchido a cara, você tropeçaria do mesmo jeito? Será que se você tivesse estudado, ainda assim não teria passado no concurso?

 

    Quanto mais estou imerso em fóruns e comunidades de discussão, mais eu vejo esse tipo de comentário. E no fundo, eu até entendo, é sério. Essa muleta foi oferecida e muitas pessoas a receberam de bom grado.

 

    Muitos grupos espiritualistas usam o termo com uma resposta autopunitiva, uma maneira de fazer uma pessoa acreditar que “tudo é culpa dela”. Mas essa também é uma solução extremamente simplista, alguém lhe procura pedindo ajuda e a resposta é “a culpa é sua então mude”. É claro, às vezes, como nos exemplos acima, realmente é. Mas isso não tem nada a ver com suas vidas passadas, tem a ver com o fato de você mesmo se colocar em situações “de risco”.

 

    O ponto é que, é muito fácil dizer “mude” sem se aprofundar numa metodologia para tanto e estudar as consequências dessa mudança. É muito fácil dizer “a culpa é sua”, assim como é fácil responder que a reforma íntima é a solução, sem dar nenhuma orientação de como isso deve ser feito e sem analisar o mundo exterior. Tentar ajudar, colocando mais peso nas costas do assistido, não é auxílio, é castigo.

 

    A primeira coisa que as pessoas precisam entender, é que tem que parar de buscar uma resposta invisível ou metafísica para problemas reais. E com isso eu quero dizer: pare de olhar para trás e foque na frente. Esqueça o karma, o problema está aqui, resolva. Pare de pensar em de onde você veio e se preocupe em para onde você vai. O disco não para de tocar, a agulha continua indo em direção ao centro e embora você saiba que essa música irá acabar em algum momento, depois de um intervalo, virá a próxima, e assim vai até a faixa de encerramento. Resolva! Na próxima revolução você já saberá o que fazer. Não dá para pular, não entender ou buscar uma origem, esqueça tudo isso e simplesmente resolva.

 

    Karma também não é resposta para inaptidão, eu tenho dificuldade nisso porque é karma, eu não sei fazer aquilo porque é karma. Pelo amor de Deus (ou dos Deuses, ou da Luz, ou de quem você quiser), que tal praticar mais, se esforçar mais. Quantos exemplos existem de pessoas com deficiências físicas que as superam e se consagram? Quantos medalhistas olímpicos em para-olimpíadas? Recentemente vi uma palestra de Stephen Hawking (se não me engano no TED Talks) onde ele diz que sua esclerose foi o que talvez o tenha ajudado a manter sua mente focada no seu trabalho. Isso não foi empecilho para que ele trilhasse a carreira que tem. Mas, e se ele fosse espiritualista em vez de ateu? Talvez ele teria acreditado que seu estado seria um karma e nesta autopunição não tivesse realizado um décimo do que fez.

 

    Vivemos uma era de evoluções, nossos sistemas de comunicação e tráfego de informações nunca foram tão abertos e acessíveis. Nos últimos anos conseguimos discutir ideias como nunca antes. Nossas modernas ferramentas digitais nos permitem, hoje, que nos conectemos com pessoas num mesmo círculo de interesse, independente de barreiras geográficas e em alguns casos, até linguísticas.

 

    Hoje, é possível que busquemos o conhecimento além dos livros, exteriorizando e compartilhando nossa “base interna de conteúdos”, comparando-a facilmente com a do próximo, nossos “irmãos de ideias”, expandindo nosso nível de experiências e conclusões. O mais interessante disso é que, por mais que existam hoje mais “livre pensadores”, os dogmas ainda estão fortemente enraizados em nossas mentes.

 

    Mesmo em grupos de estudo fechados, onde o objetivo é expandir (e libertar) a mente, resquícios de uma autopunição e o peso nos ombros recaem sobre os indivíduos a todo momento.

 

- Oliver Logra

 

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O Manifesto Anti-Karma e o Disco de Vinil:

Mecanismo de Defesa.

Data: 11-10-2012 | De: Carol

Muito bom esse texto!

"Eu fico intrigado com a obsessão das pessoas ao redor do karma (ou carma – como preferir). Isso virou desculpa para inação. “Isso é meu karma, não tem como resolver”

Quanto mais estou imerso em fóruns e comunidades de discussão, mais eu vejo esse tipo de comentário. E no fundo, eu até entendo, é sério. Essa muleta foi oferecida e muitas pessoas a receberam de bom grado."

Em psicologia, isso é chamado de mecanismo de defesa do ego. Veja bem: EGO.

Colocando em termos espirituais, seria a maneira do ego se manter no controle. Adotando essa postura, você transfere a sua responsabilidade pelos seus processos para uma Lei Cósmica. Se mantém em trevas - trevas, no sentido de acomodação, de falta de esclarecimento, ou seja, falta de luz.

Dizem que quanto mais luz você puxa, mais sombra você vê e é verdade. E é nesse sentido que a gente pode fazer algum trabalho de reforma íntima: vendo aonde estão os buracos que precisam ser tapados, as paredes que precisam ser lixadas, a bagunça que precisa ser arrumada. Com parca luz no ambiente, você não vê os detalhes e pode achar que está tudo arrumado. Um engano que no fundo, é conveniente: Mas conveniente para quem? Quem dentro de você precisa de desculpas? Quem dentro de você precisa de muletas? Quem dentro de você trabalha contra a manifestação da sua Vontade?

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