Palavras de Poder ou o Poder das Palavras?

02-01-2012 22:31
    
    Há algum tempo, um amigo com claras tendências budistas começou a me perguntar sobre filosofias ocultistas. Estava começando a demonstrar interesse, principalmente em kabbalah e astrologia. Nesse ponto, dei o que talvez fosse o melhor conselho no momento e que vale para todos os interessados nessas linhas de pensamento: mantenha a sua cabeça aberta.

 

    Na sociedade atual é muito comum estarmos cercados por religiões dogmáticas, que em vez do religare, plantam mais nossos pés no chão. Um fato importante, é que todas as religiões estão certas e ao mesmo tempo, todas estão erradas. Não existe uma verdade absoluta, a dura realidade é que todos partilhamos uma centelha fragmentada e a intolerância nos faz cegos em relação a uma iluminação universal.

 

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    E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.

    E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali.

    E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal.

    E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.

    Então desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;

    E o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.

    Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.

    Assim o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.

    Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o SENHOR a língua de toda a terra, e dali os espalhou o SENHOR sobre a face de toda a terra.

 

    A passagem acima, retirada do Gênesis (11:1-9), se refere ao mito da Torre de Babel e diz que Deus, para impedir a construção da torre, fez com que os homens falassem muitas línguas diferentes. Não se entendendo, a construção parou.

 

    Observando o homem moderno, fica claro que deve haver um erro de interpretação no mito. Em tempos onde cada vez mais existem ferramentas para comunicação, a língua deixou de ser um empecilho, ela pode ser até uma barreira inicial, mas nada que impeça em absoluto a conclusão de uma obra, seja ela qual for. Por necessidade ou vontade, o homem se aproxima de seu semelhante aprendendo a falar a língua do próximo. Não existe nenhum dogma ou imposição moral que o proíba disso, talvez restrições econômicas, mas estas caem por terra, principalmente quando o retorno financeiro fala mais alto.

 

    Símbolo é aquilo que une, e diábolo é aquilo que nos separa. A língua se torna símbolo e a religião, o diábolo. O homem é capaz de se esforçar anos para aprender uma língua, mas não é capaz de perder minutos para aceitar a fé do próximo. As pessoas se gabam por falarem três ou quatro idiomas, mas você nunca, por ter duas ou três religiões. A discórdia que balança a torre não está no verbo, mas na intolerância religiosa. E diria ainda mais, não só religiosa, mas de qualquer outra forma. É irônico, mas a fé que deveria nos unir é um dos elementos que mais nos faz distantes atualmente.

 

    O dogmatismo vai muito além do aspecto religioso e filosófico, muitas vezes é algo enraizado na cabeça das pessoas pelo medo daquilo que desconhecem. Lembro-me de um caso, há alguns anos, comecei um curso de doutrina espírita em um centro Kardecista. Em determinada aula, o instrutor explicava sobre a preparação do médium para os passes ou incorporação, foi quando mencionei a importância da ritualística não somente para o trabalho mediúnico, mas para qualquer trabalho que envolva concentração.

 

    Toda preparação que envolve uma rotina previamente estabelecida trata-se de um ritual. Se você, todos os dias, ao acordar, senta-se na cama, estica o pescoço, os braços e depois vai escovar os dentes, a repetição diária caracteriza um pequeno ritual. Criar uma ritualística para uma rotina de estudos, por exemplo, ajuda você a manter o foco ao iniciar seus trabalhos.

 

    O grande problema naquela aula foi o uso da palavra ritual. No momento em que ela foi mencionada, determinada pessoa no ambiente arregalou os olhos assustada e disse: não, não é um ritual, é uma preparação, ritual é uma palavra muito forte!

 

    A forma com que isso foi dito fez parecer que todos que usam ou fazem um “ritual” estão praticando uma espécie de magia negra ou adoração ao demônio.

 

    Quem tem medo das palavras? Todos que já se aprofundaram um pouco mais no estudo da magia simbólica sabem que não é a palavra, mas sim a intenção. O que importa não é o que você fala, mas o que você pensa e faz. Um “parabéns” carregado de inveja e cobiça é muito pior do que um insulto jogado como uma frase solta.

 

    Pessoas policiam sua boca quando deveriam policiar seus cérebros. Escondem-se em formalismos linguísticos e trajes elegantes, se ofendendo com maneirismos, gírias e palavrões. Mas pelas costas, meus amigos, por trás das cortinas, oprimem, difamam e caluniam como se fosse a coisa mais normal do universo. Como se sua maneira de ver o mundo fosse a única correta, como se fosse vetado ao próximo o direito ao livre pensamento, como se fosse dado a elas o direito de cuidar da vida dos outros.

 

    Mantenham suas cabeças abertas. Olhem, avaliem, pensem e só depois julguem. Ninguém está certo e ninguém está errado, eu sou ateu, sou cristão e sou muçulmano, sou judeu, sou budista e sou macumbeiro, eu não tenho uma religião, eu tenho todas as religiões!

- Oliver Logra

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Palavras de poder ou o poder das palavras?:

Tolerância.

Data: 03-01-2012 | De: Iara

Achei legal o que eu vi um rabino falar na TV uma vez, sobre um programa de ecumenismo. Ele disse que tem vários amigos de outras religiões e quando comentaram com ele que era bacana aquele jeito dele ser tolerante, ele respondeu que não se tratava de tolerância, porque essa palavra dava até um sentido de que você não gosta, mas tolera tal coisa. Que era aceitação. E que ele aceitava todas as religiões como uma parte do Todo.

O que eu sempre vi nessa história é que cada religião tem um pedacinho de verdade e todas elas se complementam. Como você, também sou de várias religiões e de nenhuma ao mesmo tempo.

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