Pontos Cantados

23-12-2011 11:43

 

 

      Olá, amigos!

    Os pontos cantados são uma das tradições mais famosas fora do círculo da Umbanda. Uma grande quantidade de pontos foram incorporados no cancioneiro popular brasileiro e cantados por uma infinidade de artistas. Hoje vamos debater sobre a forma, o conteúdo e a utilidade dos pontos cantados.

 

    Os Pontos de Umbanda são originários dos pontos de Candomblé, vindos da África. A diferença básica é que os pontos de Umbanda são cantados em Umbanda, Atabaque, Ponto Cantado, Incorporação, Ocultismo, Magia, Espiritualismoportuguês e os pontos de candomblé são cantados em Yorubá. Tirando essa diferença estrutural, temos uma mar de semelhanças: os pontos normalmente são divididos por categorias: alguns são cantados apenas para defumação, outros para invocar/evocar as energias dos orixás para um trabalho, e ainda temos aqueles que são cantados para passar uma mensagem para o público presente.

 

    Normalmente, os pontos cantados na Umbanda são formados por versos curtos e rimas simples, geralmente com estrofes de 4 versos. Alguns pontos tem origem conhecida – como o “Hino da Umbanda”, composto por José Manuel Alves, português que se mudara para o Brasil em 1929. José Manuel era cego de nascença e trabalhava compondo marchinhas e músicas populares. Certa vez, foi até Zélio De Moraes para se consultar com o Caboclo das Sete Encruzilhadas para tentar remover sua doença. O caboclo lhe informou que sua cegueira era de origem cármica. Mesmo assim, José Manoel continuou a frequentar a religião, se apaixonando pela Umbanda. Compôs a canção e apresentou ao Caboclo das Sete Encruzilhadas que gostou tanto que resolveu apresentá-la como Hino da Umbanda no 2º Congresso de Umbanda, em 1961, sendo oficializada na 1º convenção do CONDU – Conselho Deliberativo de Umbanda, em março de 1976.

 

    A letra do Hino da Umbanda é:

 

“Refletiu a luz divina
Com todo seu esplendor
Vem do reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na Terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para tudo iluminar
Umbanda é paz e amor
Um mundo cheio de luz
É força que nos dá vida
E a grandeza nos conduz
Avante filhos de fé
Com a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá”

 

    Em outros casos, não existem documentações oficiais sobre a autoria dos pontos. Em muitos deles, é assumido que a própria entidade, através de contato psíquico, passe as cantigas diretamente para os filhos de santo. Não é factível que todas as obras sejam passadas dessa maneira, mas é bastante razoável admitir que alguns pontos específicos tenham tido essa origem.

 

    O conteúdo dos pontos varia muito, dependendo da sua utilização. Um ponte de defumação normalmente possui instruções de como deve ser feita a defumação. Um ponto de orixá trás características dele, para que os filhos de santo possam aprender além dos ensinamentos das entidades. Alguns pontos são especificos de certas entidades, sendo que outros podem ser cantados para uma falange inteira. Por exemplo, podemos cantar um ponto para os caboclos em geral e um ponto especifico para um certo caboclo, como o Caboclo Pena Verde ou o Caboclo Pena Dourada.

 

    Um fato que costuma chamar a atenção dos que estudam a Umbanda é que terreiros diferentes costumam cantar pontos iguais, mas trocando uma palavra por outra. Veja só esse exemplo:

 

- Um tradicional ponto para Xangô diz:

 

“No alto daquela montanha

tem um livro que é de Xangô

Kaô, Kaô

kaô, Kabecile”

 

- Porém, em outros terreiros, podemos ouvir:

 

“No alto daquela montanha

tem um lírio que é de Xangô

Kaô, Kaô

kaô, Kabecile”

 

    Dessa forma, qual dos dois pontos está correto? Para saber isso, vamos descobrir que livro ou que lírio são esses que aparecem na cantiga.

 

    O livro que o texto se refere seria a Vulgata, Primeira tradução da bíblia do grego e do hebraico para o Latim, Feita por Jerônimo de Strídon, Posteriormente conhecido como São Jerônimo. Na comparação entre os santos católicos e os orixás, Xangô é sincretizado com São Jerônimo, pois Xangô é orixá que rege a justiça e São Jerônimo aparece escrevendo o livro da lei (A bíblia sagrada). Logo, faz sentido dizer que no alto da montanha – Local energético relacionado com Xangô – tem um livro que é de Xangô/São Jerônimo.

 

    Já o Lírio é uma flor associada a Xangô. De novo, o padrão vibracional bate com os padrões do orixá, ou seja, também faz sentido dizer que no alto da montanha tem um lírio que é de Xangô. 

 

    Dessa forma, qual das duas cantigas é mais correta? Na verdade, as duas são corretas e podem ser cantadas sem medo. Porque as palavras faladas são importante, mas o objetivo da canção independe das palavras cantadas. O principal objetivo dos pontos cantados é fazer com que os médiuns entrem num estado vibracional parecido. No início de cada sessão, todos cantam e batem palmas e isso é uma forma de todos estarem mudando seu padrão vibracional coletivamente, “sintonizando” a mesma energia, para que a gira possa ocorrer tranquilamente. O toque dos atabaques também ajuda a fortalecer essa vibração.

 

    Normalmente as pessoas não percebem, mas o toque para orixás diferentes é característico e único, pois está de acordo com a vibração de cada um. Umbanda, Atabaque, Ponto Cantado, Incorporação, Ocultismo, Magia, EspiritualismoUm toque pra oxum geralmente é num ritmo mais arrastado do que um toque pra oxóssi, por exemplo. Isso prepara todo o terreiro para os trabalhos: os médiuns e as próprias entidades, através desses pontos, acabam chegando numa vibração mais igual, facilitando a incorporação. Quando essa vibração fica desbalanceada, os médiuns trabalham mal, tendo incorporações complicadas, se balançando e debatendo de um lado pro outro.  Quando é bem feito, a incorporação é feita de uma forma extremamente leve e tranquila, sem sobresaltos.

 

    Um outro objetivo importantíssimo dos pontos cantados é fazer com que os médiuns entrem em um estado alterado de consciência (EAC). Ao atingir esse estado, a mente que estava em um estado de ondas beta entra em ondas alfa.

 

    Aleister Crowley percebeu logo nas primeiras vezes que tentou conjurar um espírito da goécia que fazer um ser aparecer no meio de fumaça ia ser bem complicado. Quando estudava voodoo, percebeu que os médiuns no Haiti entravam primeiro num estado de transe para poder ter contato com as entidades. Essa era a chave para poder invocar os demônios da goécia sem problema. Na edição de 1904 de “A goécia de Legemeton do Rei Salomão”, ele diz que todos os espíritos de Salomão são uma porção da mente humana.

 

    É importante frisar que essa necessidade de entrar num EAC – gnose, êxtase religioso, estado alfa, dependendo da sua crença – é muito antiga. O próprio ato de rezar uma novena (que depois foi diminuida para um terço por ser justamente um terço do tamanho original) advém da tentativa de se entrar num estado de EAC ao repetir várias vezes as orações. As contas servem justamente para que você possa rezar sem parar para contar e saber qual é a próxima oração, podendo se concentrar totalmente no que está fazendo.

 

    Outra prática utilizada no catolicismo, mas muito menos divulgada é a da mortificação. A prática é utilizada por ascetas para que possam ter uma vida mais correta, renunciando aos prazeres carnais para que possam atingir um certo grau de desenvolvimento espiritual. A mortificação – em especial a auto-flagelação – tem como objetivo desligar a mente objetiva para os prazeres (e posteriores sofrimentos) da carne para abrir as portas de um novo plano superior. São João da Cruz, padre espanhol que viveu no século XVI, escreveu: “Jamais, se queres chegar a possuir a Cristo, o busque sem a cruz

 

    Graças ao desenvolvimento e divulgação da magia do caos e seu sistema de sigilização, outros métodos de se atingir um EAC são conhecidos e praticados. O mais comum é a prática do onanismo ou masturbação. Ao atingir o orgasmo, o cérebro “desliga e liga” de novo – a “petit mort” dos frânceses. Esse é o momento utilizado para lançamento de sigilos. Outros métodos ativos de se chegar a um EAC envolvem levar o corpo e a mente a um estado de exaustão total. Esses métodos envolvem ficar acordado por muitos dias, caminhar sem rumo até desmaiar de cansaço, fazer associações mentais até a mente não aguentar mais ou ouvir várias músicas ao mesmo tempo e tentar ler enquanto isso.

 

    A segunda forma de se atingir esse estado são métodos passivos, menos “agressivos”: meditação, contemplação, geralmente utilizando sons (como o sino tibetano ou sons em frequências especificas para se entrar em transe) para que o EAC seja atingido. Os pontos cantados se encaixam melhor nessa categoria, pois a concentração no ritmo dos atabaques faz com que as pessoas possam atingir esse estado, facilitando a incorporação.

 

    Como trabalho de casa, sugiro que vocês deem uma voltinha no youtube, ouvindo os pontos cantados de diferentes orixás para tentar distinguir as diferenças nos ritmos.

 

Salve!

- Gênesis.

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Pontos Cantados:

eu fiz um novo ponto pra mestra

Data: 23-07-2012 | De: layne

oi,beba beba beba beba
oi beba beba bebá
oi beba beba beba deixa a mestra trabalha
sou mestra ,sou ritinha sou mulher sou justiceira
na boca de quem não presta ritinha é bagaceira

Re:eu fiz um novo ponto pra mestra

Data: 23-07-2012 | De: lilian

é lindo

Parabéns pelo blog

Data: 23-12-2011 | De: Humberto Brum

93!
Este blog está me saindo muito mais didático e gostoso de ler do que o TdC dos últimos meses. Parabéns!
93,93/93

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