Sobre o Zumbi de Toraja

10-09-2012 17:47

    Recentemente, em uma das redes sociais que utilizo, vi a interessante imagem que está neste post. A história era sobre um certo ritual de magia negra realizado na Indonésia, que faz com que os cadáveres caminhassem sozinho retornando a seus túmulos. Não vou voltar a me centrar no uso da tal “magia negra” que já comentei em outro post. A questão aqui fica na credibilidade e no sensacionalismo com que a coisa foi apresentada (pelo que vi, a matéria está em alguns blogs).

Zumbi de Toraja, Ritual, Mortos, Ancestrais, Magia, Magia Negra, Divagações, eOcultismo    Sejam francos, alguém já viu cadáver andando por aí? Sejam realistas, coloquem seus pés no chão. Uma das coisas que tenho para mim é que você deve acreditar naquilo que você viu e passou. Boa parte da compreensão dos estudos espiritualistas ou magisticos é fruto da experiência pessoal, e isso é refletido também no início da jornada. Existe, no mínimo, uma pequena mancha de curiosidade em todos que começam suas buscas neste caminho, normalmente despertada por algum acontecimento “cientificamente” ilógico. Mas este, ainda é só o começo, quanto mais resultados você colhe, mais certeza você tem que existe algo além do horizonte visível. Ainda assim, um cadáver, é um cadáver e não vai sair andando por aí.

    Os Toraja, são um grupo étnico “indígena” de uma das províncias da Indonésia, hoje em sua maioria eles são Cristãos, mas uma parte é Muçulmana e existe ainda, uma minoria praticante de uma antiga religião chamada Aluk (O Caminho), ou Aluk Para Dolo (Caminho dos Ancestrais). Não vou entrar a fundo nos aspectos desta religião, não fui tão fundo em minhas pesquisas, mas vou me concentrar no ritual mostrado em si.

    Em meados de agosto, alguns grupos realizam um ritual chamado de Ma ‘Nene. Seu objetivo é limpar os restos e substituir as roupas de um ancestral já falecido. Durante o ritual, os caixões (ou sei lá como eles chamam) são retirados dos túmulos e são colocados em uma área cerimonial. Lá seus parentes estão aguardando e lentamente retiram o cadáver (ou os restos mortais) limpando-o e vestindo-o com roupas novas.

    Os links falavam de um tal “Zumbi de Toraja” onde na sequência do ritual os corpos eram reanimados por magia e retornavam sozinhos para seus caixões orientados por um amparador, que em hipótese alguma poderia chamar pelo nome do morto. Se você observar a imagem verá claramente que existem duas pessoas “guiando o morto” até algum lugar, não sei se de fato isto é feito, porém num dos raríssimos vídeos sobre o ritual que encontrei no YouTube, vemos que os corpos são claramente colocados em pé. Tratam o corpo como se ainda fizessem parte da família e, não seria de se espantar que esses amparadores forjassem um movimento do corpo, como se estivessem auxiliando seu antepassado a chegar em seu caixão. O grande fato é, o cadáver não caminha sozinho.

    O MA ’Nene é tido como um culto de amor a seus antepassados. Fazem isso em respeito, acreditando que eles os auxiliam evitando pragas, afastando o mal e os infortúnios da vida. A parte mais interessante disto tudo é a lenda que conta a origem deste ritual. De um valor simbólico riquíssimo ela fala não só de respeito aos ancestrais mas do respeito à vida (e à morte) como um todo.

 

    Conta-se que um caçador chamado Pong Rumasek, colocou-se em sua labuta. Mas durante sua jornada, em vez dos esperados animais, o que encontrou foi um corpo que jazia morto sob uma árvore, abandonado, sujo e com seus ossos expostos ao tempo. Pong sentiu pena e decidiu cuidar do cadáver como podia, retirou suas próprias roupas, cobriu o corpo e o colocou numa área mais apropriada. Após o acontecido, ele continuou sua caçada.


    Inesperadamente, após este acontecimento, toda vez que Pong saía, ele obtia excelentes resultados, era como se animais fossem levados até ele. Não só isso, quando ele retornou de sua caçada, viu seus campos de arroz ricos e prontos para a colheita. Para estes povos, Pong conseguiu toda essa “graça” devido ao respeito e compaixão que teve com o cadáver.

    Você pode, e eu acredito que muitas pessoas pensarão desta maneira, achar o ritual bizarro. Mas, mais uma vez, sejam coerentes, qual não é? Provavelmente se você trouxer um membro dessas tribos para o Brasil e ele observar uma pessoa acendendo uma vela ao lado do corpo do morto, pode (e veja bem que estou especulando) achar tão bizarro quanto. Imagine-o pensando “Olha lá, vai tocar fogo no corpo do tio dele!”

    Só uma coisa me deixa intrigado, se realmente eles não chamam o “nome do morto”, qual seria o motivo? Se você já o tirou da sepultura, depois do caixão, trocou a roupa e fez o cara “andar” de volta, falar o nome parece o menor dos problemas!

    P.S. O vídeo a seguir deve ser de algum ritual já derivado do conceito original. Aparentemente o Ma ‘Nene é um ritual fechado, mais familiar, no vídeo é praticamente um “freak show”, com turistas fotografando ao lado dos corpos.

 

Mumi Dari Toraja

www.youtube.com/watch?v=3qdgutElNME

 

- Oliver Logra
 

 

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