Umbanda, Kardecismo e Candomblé

29-11-2011 23:11

 

    Olá, Amigos!

    Hoje nós tentaremos tirar uma ou outra ideia errada a respeito da Umbanda e suas primas: o Espiritismo e o Candomblé. Embora os dois cultos sejam bem diferentes entre si, a umbanda é a zona intermediária e as confusões são geradas pelos que não tem contato com esses ritos.

 

    É importante frisar desde o início que esse texto serve para desmistificar alguns erros e ideias pré-concebidas que são disseminadas através da ignorância das pessoas. É normal alguém não saber, mas não é normal julgar sem saber o que está acontecendo. Além disso, é importante notar que não estamos fazendo julgamento de valores. Cada crença tem seus prós e contras e o objetivo único deste post é apontar diferenças.

 

As diferenças entre a Umbanda e o Kardecismo

 

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    A Umbanda é uma religião espírita, pois acredita que o processo reencarnatório é a chave para o desenvolvimento do espírito. Utiliza como base científica para abalizar o seu trabalho, a doutrina de Hippolyte Léon Denizard Rivail, que trabalhava sob o pseudônimo de Allan Kardec. A minha iniciação na Umbanda passou pela leitura de “o livro dos espíritos” e eu aconselho essa leitura para todos que desejam se iniciar na senda ocultista.

 

    Para podermos entender as diferenças básicas entre os dois cultos, é importante entender o objetivo de cada um deles: O Kardecismo tem, em geral, um caráter doutrinador. Tenta fazer com que o indivíduo, através de palestras e leituras comentadas de trechos da extensa literatura espírita, possa ter uma compreensão e adote uma abordagem diferente da vida, a fim de se iluminar. Normalmente se recorre ao passe magnético para reorganizar as energias do corpo, através da energização dos chacras. Esse processo é bastante conhecido e pode ser feito sem incorporação, desde que o médium esteja equilibrado e tenha conhecimento do que está fazendo. A psicografia é utilizada como uma forma de contato entre um parente ou conhecido desencarnado. Não existe uma incorporação do espirito comunicante, mas sim um contato entre espirito/médium. Esse contato é importante, pois exemplifica uma grande diferença entre a Umbanda e o Kardecismo: O contato entre médium e espirito no kardecismo é quase telepático. Na Umbanda, esse contato é maior, tendo a incorporação completa como maior expoente.

 

    Em alguns centros kardecistas existem caboclos que trabalham com passes e, em alguns casos, com consultas. O mesmo ocorre – com um pouco menos de regularidade – com pretos velhos. Normalmente, essas casas estão na fronteira entre a Umbanda e o Kardecismo.

 

    É importante ressaltar que essas diferenças são apenas técnicas. Cada pessoa tem uma necessidade e cada local pode ajudar de sua maneira.

 

Umbanda e Candomblé: Tudo macumba?

 

Diferenças, Umbanda, Candomblé, Kardecismo, Iniciação, Camarinha, Ocultismo, Magia, Espiritualismo, Allan Kardec, Orixás, Guias    É muito comum ouvir absurdos quando tratamos de umbanda e candomblé. Uma diz que “Umbanda é magia branca e candomblé é magia negra”, uma afirmação ignorante e recheada de preconceito. Para os não iniciados, a diferença entre os dois é praticamente nula.

 

    Em ambos os ritos, temos o culto aos orixás, como manifestações antropomorfizadas das várias faces de Deus. Cada orixá tem sua correspondência com uma manifestação no macrocosmos e no microcosmos, sendo que cada um tem sua correspondência na árvore da vida. A diferença é que no candomblé existe um refinamento nas energias: Se existe Xangô na Umbanda, no candomblé temos outras manifestações dessa energia: Xangô Ayra, Xangô Barô, Xangô Alafin, Xangô Agodô. Podemos entender que temos cores e refinamentos dessas cores. Na umbanda temos o azul. No Candomblé temos o azul bebê, o azul claro, o azul escuro, o azul royal, etc.

 

    O processo de incorporação também se dá de uma forma diferente: Na umbanda temos contato com as entidades, que vem a terra para cumprir com um trabalho de caridade de ajudar o próximo. No Candomblé, temos a manifestação da energia pura do orixá. Por isso que um iniciado no candomblé precisa de um tratamento muito mais cuidadoso: a energia que ele utiliza é muito pura e nosso corpo não suportaria esse energia toda.

 

    Nesse caso, o iniciado no candomblé deve ficar 21 dias recolhido, sem contato com o mundo exterior. Deve ficar 1 ano sem beber, usando roupas brancas e evitando frequentar locais que possam trazer vibrações baixas.

 

    O candomblé veio para o Brasil com os escravos trazidos da costa oeste da Africa. Esses escravos vinham de nações com linguagens e cultos ligeiramente diferentes uns dos outros. Isso explica porque temos algumas discrepâncias até hoje em relação a nomes e rituais, ou seja, Um terreiro Banto, Ketu ou Jêje podem ter grandes diferenças, embora eles estejam trabalhando na mesma vibração energética.

 

    Alguns pontos discordantes entre a Umbanda e o Candomblé: Na umbanda existe uma regra, ditada pelo próprio caboclo das sete encruzilhadas no dia da primeira sessão, lá em 1908. Ele disse que a Umbanda seria uma religião que iria priorizar a vida. Logo, Não existe sacrifício de animais na umbanda. O corte – termo que é usado para o sacrifício – permanece no Candomblé como uma forma de alimentar a egrégora e mandar essa energia para a causa pedida. Na umbanda a energia do sangue (chamada ijé) foi trocada por energia extraída das plantas e ervas. Obviamente essa energia não é tão grande como a energia do ijé animal, mas pelo menos não há sacrifício.

 

    Essa questão é polêmica em dois pontos: primeiro, que não existe muita diferença entre matar um animal para um sacrifício e para se alimentar. Logo, a proibição do corte deveria se estender a um abraço coletivo dos umbandistas no vegetarianismo. O vegetarianismo seria interessante por outros motivos alem do citado – é extremamente prejudicial para a incorporação as energias da carne dentro do aparelho digestivo. Segundo, que o corte existe em outra religiões e não é tão criticado: No livro do Levítico, que faz parte do pentateuco, existem inúmeras passagens se referindo a sacrifícios de animais. Se a pessoa teve um filho, mate um boi. Se quer alcançar uma graça, mate vários bois. Para energizar seu templo, derrame sangue de um bode sobre o altar – exatamente como acontece nos terreiros de candomblé. O famoso “bode expiatório” é simplesmente um animal que é sacrificado para expiar os pecados dos moradores de uma aldeia. Até hoje algo parecido acontece em algumas vertentes do Judaísmo e no candomblé, mas utilizando uma galinha, não um bode.

 

    Vale lembrar que todos os cultos nasceram na áfrica, sendo no oeste ou no norte. E é bastante provável que em algum momento existiu uma raiz comum entre os dois grupos em algum lugar da África. Outro ponto de discordância é em relação ao papel do sacerdote. Se você for num terreiro de umbanda e pedir para que seu vizinho seja morto porque ele é muito chato, provavelmente você vai ouvir, antes de qualquer aconselhamento, um sonoro não. A ética umbandista diz que a entidade e o médium são responsáveis também pelos pedidos dos consulentes. Se o pedido for algo moralmente repreensível, a entidade provavelmente não vai fazer – isso supondo que a entidade e o médium sejam evoluídos, mas isso é assunto para um próximo post.

 

    No candomblé, não existe uma linha ética bem traçada: Se você pedir para matar alguém, o babalorixá pode dizer sim. Se você está disposto a pagar o preço, pode ser feito. É bom frisar que esse preço não é apenas o preço financeiro: o preço cármico também está incluído. Isso significa que para o candomblecista o carma fica apenas para quem desejou, não para quem fez acontecer. O sacerdote é visto apenas como um meio, não influindo no processo cármico de quem deseja o mal para outro.

 

    Existem as chamadas linhas traçadas, ou umbandomblé, a qual teríamos uma mistura entre os dois ritos, mas na verdade são apenas casas aonde se tem trabalhos das duas vertentes.

    Uma nota interessante: O Nome macumba vem do nome da madeira utilizada para construir os atabaques. Poucos sabem, mas a origem dos atabaques na umbanda vem dos tambores indígenas utilizados para entrar em transe xamânico. Depois os tambores e batidas do candomblé foram associadas a esse mesmo transe e utilizadas na umbanda.

 

Gênesis

 

- Como trabalho de casa, sugiro aos amigos uma pesquisas sobre as subdivisões do candomblé, suas raízes africanas, divisões geográficas e teurgicas.

Questionário

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Umbanda, Kardecismo e Candomblé:

Ótimo

Data: 28-08-2012 | De: Maikol de todas as crenças

Adorei o texto, tira muitas dúvidas. E repetindo o que o 'Irmão Folha Verde' disse acima: os métodos e os caminhos são diferentes, mas todos buscam o mesmo destino, Deus.
Eu sonho com o dia em que a manifestação de culto seja realmente livre no Brasil. Eu não sou iniciado, minha religiã difere das três citadas acima, mas tenho muito interesse no assunto,
Camdomblé, Umbanda, Espiritismo, Catolicismo, Cristianismo, Budismo, Mulçumanos...etc. F*d*-se, o importante é seguir o seu caminho sem criticar o caminho dos outros. Axé meus irmãos, e que Deus os abençoe!!!


Muito Bom!

Data: 24-08-2012 | De: Emerson

Gostei muito do post, de verdade. Mas só uma sugestão, para evitar confusões em quem não tem contato. Acho definir a Umbanda como uma religião espírita pode gerar desentendimento por quem não conhece o termo em sua forma original. Isso porque podem pensar que uma desdobrou-se da outra, como se a Umbanda fosse alguma espécie de Sub-divisão do Espiritismo e não é nada disso; Talvez a melhor definição é que a Umbanda seja uma Religião reencarnacionista com sua base Espiritualista encima da obra O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Fica ai de opinião, parabéns pelo Post! :D

Abraços Fraternos

crença

Data: 04-01-2012 | De: tabata de andradea

nossa gostei !! tirei algumas dividas... brigada continuem escrevenedo!!

diferenças entre cultos!!!

Data: 30-11-2011 | De: Irmão Folha verde

Parabéns Gêneses! Foi a primeira vez que li um texto explicando clama e simples as diferenças entre os três. Como acho que vocês sabem sou umbandista de nascimento e adepto dos conceitos kardecistas (nem todos é claro, mas da maioria), e sempre percebi isso até tento mostrar a diferença para alguns amigos não iniciados. Meu lamento em tudo isso é ver a discriminação entre os Irmãos dos três cultos se flagelando entre si. Cada qual falando que o outro é errado ou menos evoluido que ele. Isso é um grande erro, espero que um dia todos possam ver que cada um tem seus métodos e caminhos, mas o destino é o mesmo: D"us!!!
A Paz Irmão!!!!

Re:diferenças entre cultos!!!

Data: 16-12-2011 | De: Genesis

É triste ver os irmãos brigando por nomeclaturas... A espiritualidade é muito maior que isso!

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