Umbanda tem Fundamento

03-09-2011 20:32

 

    Até poucos anos atrás eu era ateu. Desde garoto, quando fui obrigado a fazer primeira comunhão, eu não entendia a lógica daquela doutrina. Todo mundo me mandava fazer coisas e ninguém me explicava nada. Cresci. Acabei ficando meio revoltado com a igreja e “neguei” todas as concepções que tentaram me enfiar goela abaixo. Minha formação acadêmica na área tecnológica tinha um peso maior ainda nesse afastamento e acabei, como muitos amigos meus da época, me vendo “confortado” nos braços do ateísmo. A minha lógica era bem simples: ou está todo mundo certo ou todo mundo errado. Mas por que o cara que é católico vai ser salvo e o cara que é muçulmano não? O contrário também falhava nessa premissa lógica e não via aquela herança que eu recebia de meus pais como minha.

 

    O tempo passou e eu também me sentia incomodado no ateísmo. Não via naquele grupo meus pares. Achava tudo muito elitizado, se achando superiores e querendo diminuir pessoas porque eles acreditavam em Deus, Deuses e outras formas de se relacionar com o superior. O tempo passou, acabei levando algumas lambadas bem fortes da vida e quando eu menos percebi estava sentado num centro Umbandista, levado por minha melhor amiga. “Vamos lá, é diferente de tudo que você já viu”, ela dizia. Eu acompanhei todo aquele ritual e fiquei embasbacado como que eu vi. Naquele momento, eu estava largando o ateísmo e entrando em um local que eu não sabia bem aonde era, mas parecia interessante. Encurtando a história, três anos depois (hoje) trabalho num centro espirita com o mesmo grupo que me apresentou esse trabalho anos atrás. Faço meu desenvolvimento (que na verdade é algo que nunca termina), hoje sou médium de incorporação e trabalho na Umbanda.

 

    Essa mudança radical se deu, ao meu ver, pelo fato de que a Umbanda, como cantado em pontos de defumação, tem fundamento. Cada movimento, cada item usado e cada gesto tem uma explicação e a busca por aquele entendimento servia como um combustível inesgotável de estudo. Muitos irmãos, infelizmente, não tem a mesma preocupação com essa busca de explicações e, obviamente, não estou afirmando que outros ritos não façam sentido. Cada um tem a sua razão e lógica interna e eu não discuto essa validade. Esse texto serve como uma pequena introdução a esse universo que será debatido e explorado posteriormente. Mas se vamos contar essa história, é melhor começar pelo inicio.

 

 

Zélio de Morais e a fundação da Umbanda

 

    Já ouvi quem defendesse que a Umbanda deveria ser a religião oficial do Brasil porque é legitimamente algo da nossa terra.Zélio de Morais, Fundamentos da Umbanda, Umbanda, Ocultismo, Aum-ban-dan, Primeira incorporação na umbanda Particularmente não compartilho dessa opinião, acho que existem ritos que são tão legitimamente brasileiros como a Umbanda e nem por isso são sequer cogitados para esse posto. Além do mais, existem relatos da palavra Aum-ban-dan em registros no Sânscrito. Na língua Abanheenga, do tronco Tupy das linguagens indígenas, temos que essa expressão significa “conjunto de leis divinas”. Essas informações ainda hoje são muito truncadas, com referências ao hebraico, ao fenício e ao aramaico. O ponto pacífico é em relação a fundação da Umbanda, através de Zélio de Morais.

 

    A história conta que Zélio Ferdinando de Morais (ou Moraes, dependendo que quem te contar a história), nascido em 10 de abril de 1891, tinha 17 anos em 1908 e residia em Niterói, estado do Rio de Janeiro. Zélio estava se preparando para fazer testes e entrar na Marinha quando foi acometido de uma súbita paralisia. Nenhum médico conseguiu resolver seu problema, Padres (dentre eles seus tios) nada conseguiram fazer e os dias passavam sem que Zélio apresentasse sinais de melhora. Um amigo da família sugeriu que fizessem uma visita à federação espirita, que era sediada em Niterói naquela época.

 

    Chegando lá, durante a sessão do dia 15 de novembro, o jovem Zélio, como possuído por uma força, se levantou (mesmo contrariando as ordens de não se afastar da mesa durante a sessão) e disse “Aqui está faltando uma flor”. Foi até o jardim e colocou uma flor sobre a mesa. Uma grande confusão foi criada. Quando os trabalhos foram restabelecidos, espíritos de índios e de negros escravos se manifestaram na sessão, sendo convidados a se retirar pelo chefe da sessão, pois eram espíritos considerados “atrasados”.

 

    Cabe aqui um pequeno parênteses. Essa ideia de que esses espíritos são atrasados evolutivamente é algo que, embora hoje em dia ainda persista em alguns núcleos, está completamente errada. A evolução de um espírito não tem nada a ver com como ele viveu na sua última encarnação. É de se notar que a maioria dos primeiros Kardecistas no Brasil eram compostos por uma classe abastada, que tinha recursos para fazer viagens a França e trazer diretamente de lá os ensinamentos de Kardec. Essa classe era formada por ex-católicos, e que ainda possuíam um grande preconceito de classes, incutido dentro deles. Logo, é até esperado essa atitude pelo contexto da época. Hoje esse tipo de comportamento está mais escasso, embora alguns grupos pequenos ainda divulguem isso.

 

    Voltando a Zélio, ele perguntou ao dirigente do trabalho:

 

    "- Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

 

    Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:

 

    "- Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome, meu irmão?"

 

    Ele responde:

 

    "- Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."

 

    Pela descrição do médium vidente, ele estava vendo um jesuíta (que posteriormente identificou-se como sendo o Padre Gabriel Malagrida). Essa constatação gera outra informação importante para nós: Nem sempre o que se apresenta é realmente a verdade.


 

Pretos velho podem não ser nem pretos nem velhos

 

Zélio de Morais, Fundamentos da Umbanda, Umbanda, Ocultismo, Aum-ban-dan, Primeira incorporação na umbanda, Preto Velho    Embora tenha sido um Padre Jesuíta em sua última encarnação, a entidade que incorporou em Zélio (que faleceu em outubro de 1975) se manifestava como um índio. Esse tipo de manifestação é bastante comum na Umbanda. O que acontece é que cada espírito, dependendo de sua faixa vibracional, utiliza uma roupagem perispiritual diferente para atender aos necessitados. Cada linha de trabalho na Umbanda utiliza essa roupagem para mostrar uma certa qualidade aos consulentes.

 

    Os pretos velhos representam a sabedoria e a humildade, os caboclos indicam força e coragem, enquanto as crianças são a personificação do amor e da bondade. Essas três representações também mostram as três idades do homem: infância, idade adulta e velhice em seu caminho durante a sua vida. Os Exús (também chamados de guardiões) são a segurança. Em termos bem simples, são a polícia astral que protegem a todos das influências do baixo astral (embora sejam muito mais do que isso).

 

    Já ouvi comentários de que a Umbanda é uma grande mistura, com sincretismos que acabam fazendo com que ela perca a sua identidade. Eu discordo totalmente dessa afirmação. A Umbanda nasceu de vários pais e mães diferentes sim, mas acabou se desenvolvendo de uma forma única e verdadeira. Do espiritismo, herdou todo o embasamento técnico e científico que valida suas ações. Do cristianismo, trouxe a base filosófica de trabalhar sobre a bandeira do amor e da caridade. Dos cultos africanos, trouxe o simbolismo dos orixás e do culto às forças da natureza, algo que foi redobrado pela influência da cultura indígena, além da força do xamanismo. E mesmo com toda essa influência, a Umbanda hoje em dia toma seu próprio caminho.

 

    A graça dessa “salada” é que nada se contradiz. Ao utilizar uma parte de cada um desses ritos, a Umbanda acabou conseguindo formar sua identidade. Como havia comentado mais pra cima, essa identidade tem muito a ver com o estudo e a explicação de alguns fenômenos. Acho muito interessante um movimento que vejo aqui no Brasil que é o de vários ocultistas procurarem a Umbanda como fonte de estudo. Provavelmente, é o local mais fácil de se ver uma incorporação e um dos melhores para se estudar invocação/evocação.

 

    Outro fato que atrai essa “audiência selecionada” aos terreiros de Umbanda é o fato de que o simbolismo utilizado em seus rituais são simples e são explicados abertamente ao público. Ninguém precisa ser iniciado para aprender os símbolos e gestos utilizados num terreiro. Peguemos, por exemplo, o tradicional abraço, quando a entidade abraça a pessoa dos dois lados. Esse ato, muitas das vezes quando feito rapidamente, acaba virando uma simples batida dupla, peito a peito, entre os dois. Esse ato não significa só carinho, mas também significa respeito mútuo. O gesto significa “somos iguais, estamos no mesmo nível. Não há diferença nem hierarquia entre nós”.

 

    Outro simbolismo bastante simples é o do instrumento mais utilizado nas sessões de Umbanda: O Fumo. Eu não fumo, minha mãe sempre foi voluntária no hospital do câncer e eu tenho horror que fumem do meu lado. Mas na Umbanda, esse fumo não tem nada a ver com o vício terreno. Aqui no Rio já vi muita pichação escrita “Santo não fuma” ou “Santo não bebe cachaça” (e o simbolismo da bebida vai ser explicado posteriormente), mas o fumo tem uma parte simbólica e uma parte prática:

 

    A finalidade prática do fumo é fazer uma defumação localizada. Através das baforadas, a entidade coloca a vibração necessária, extraída das folhas do fumo, no local que tem um desequilíbrio energético, fazendo com que essas energias sem alinhem outra vez (existe, inclusive, um passe que é feito através de insuflação, aonde o médium se utiliza de sopros que representam o mesmo princípio). Esse tipo de utilização da fumaça é bastante utilizada, ou você acha que esse incenso que todo mundo queima antes de fazer um ritual é só pra dar um cheirinho? Simbolicamente, a fumaça representa a palavra (fumaça/ar) gerada pelo espirito (Brasa/fogo). Os pretos-velhos costumam dizer que o segredo da Umbanda está na fumaça.

 

    Futuramente, vamos debater mais sobre outros aspectos técnicos e simbólicos presentes nos rituais Umbandistas. Por hora ficamos aqui.

 


Salve!

Gênesis.

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Umbanda tem Fundamento:

entendimento

Data: 29-02-2012 | De: Wilson Lopes

Frequentei o Kardecismo muitos anos mas,sinto uma sensação muito forte com pretos velhos acredito muito neles,agora estou passando por situação muito difícil e estou me apegando com os pretos velhos,estou frequentando um centro mas não conheço as pessoas de lá meu sonho é trabalhar como médium pois no kardecismo eu já sou, o deve fazer para trabalhar lá?obrigado pela compreensão
Wilson Lopes

umbanda

Data: 19-11-2011 | De: roger

existem variados tipos de umbanda,a umbanda traçada,a umbanda tradicional,umbanda omoloko,etc...cada uma tem suas ramificações e cada ramificação tem seus fundamentos baseados nos ensinamentos do primeiro Babá dessa ramificação,a umbanda em si é muito complexa devido as essas ramificações e fundamentos sou da umbanda traçada e só ela as vezes é complicada de se entender! É uma religião muito séria , árdua mas tem suas compensações ou seja pra se ser um umbandista tem que realmente querer,e amar o que faz porque sem isso o médium não aguenta muito tempo logo,logo ele desisti

Re:umbanda

Data: 16-12-2011 | De: Genesis

Pois é Roger: Muitos acham que o trabalho do umbandista começa no inicio da gira e termina no fim dela. Os médiuns que percebem que o trabalho é diário e não deixam de lado a espiritualidade acabam tendo resultados duradouros.

Umbanda

Data: 01-11-2011 | De: paulo castro

Muito interessante ,obrigado pelo texto mais tenho uma dúvida ,na Umbanda pode fazer visitações ao centro normalmente para fazer pesquisas e entrar em contato com as entidades?

Re:Umbanda

Data: 07-11-2011 | De: Paulo Augusto Jr.

Depende do núcleo aonde vc vai. No centro onde frequento é aberto sim, desde que vc seja conhecido de um dos filhos da casa e use o uniforme, ai vc conversa com o Baba e ele vai te responder e ensinar tudo que for conveniente e permitido!!!!

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